quarta-feira, 29 de agosto de 2012

PIZZOLATO

No dia 11.06.1965 , tomava posse como funcionário do Banco do Brasil.  Antes de sentar à mesa a mim  destinada,  li algumas recomendações contidas num famoso livro  chamado CIC-FUNCI , que deveria, além de ler, interpretar e aplicar durante a minha vida de bancário.
 
No decorrer do expediente travei conhecimento com os primeiros papéis,  muito diferentes dos documentos que lidava no serviço público  - Portaria, Leis, Decretos, ofícios. Tudo era novidade. Já possuindo porém experiência em serviços burocráticos  e sendo exímio datilógrafo não tive muitas dificuldades.
 
Lá por volta de 14:30, chegou a minha mesa um senhor de aproximadamente 45 anos, porte alto, cabelos ensaiando os primeiros fios grisalhos, tez clara e voz com impostação forte.  Pediu-me  licença para abrir a gaveta da mesa que eu ocupava e indagou-me em seguida se por acaso teria visto uma lanterna. Como nada achou, foi para a mesa ao lado e assim foi passando de uma a uma.
 
Por volta de 16:00 horas,  já com as portas do Banco fechadas para atendimento ao público, fiquei sabendo que o tal que fuçava gavetas a procura de uma lanterna,  era um inspetor de nome Pantoja tido e havido como o terror dos gerentes e funcionários do Banco, visto o rigor aplicado em suas rotineiras inspeções.  Mais ainda quando se tratava de inspeção especial (não era o caso daquela).
 
Minha mesa estava situada logo à esquerda da mesa do sub gerente da agência, responsável pela sua administração. Assisti  assim o fato que a memória me faz trazer a público no momento em que o Supremo Tribunal Federal, na votação em andamento já meteu seis bolas pretas condenando o ex-diretor do BB, Pizzolato.
 
Bem,  voltando ao assunto, o senhor Pantoja queria que o sub gerente apresentasse a ele a lanterna. O sub respondeu : que lanterna ?  Aqui na agência não tem lanterna, o que o senhor pretende iluminar? Podemos conseguir um lampião. Não ! eu quero a lanterna,  respondeu.O sub gerente de novo retrucou que na agência não havia lanterna.
 
Então aquele senhor, com os papéis de caixa, já blocados e numerados, não tenho lembrança do mês e dia a que se referiam, pois, diariamente todos os documentos após coletados , eram somados, numerados, lançados no balancete e guardados por vários anos (acho que 20 ), com ar de ironia, como se tivesse detectado um grande deslize,  destacou um comprovante de pagamento de despesas gerais  relativo a compra de duas pilhas média (supunha ele que se tratava de carga para a tal lanterna), e foi dizendo se não tinha lanterna porque o banco estava comprando pilhas? Aquilo era uma grave irregularidade  passível de severa punição por desvio de recursos e mal uso do dinheiro do Banco, tal irregularidade poderia contribuir para o deperecimento do Banco (os auditores da INGER e do BACEN  adoravam essa palavra deperecimento).
 
Nunca  me esqueci da grotesca cena: o sub  chama o contínuo cuja rubrica constava do documento de caixa e o indaga sobre a aquisição das pilhas. Ele mais que depressa respondeu: uai! As pilhas foram compradas para colocar no novo relógio. E incontinenti de posse de uma pequena escada retirou o relógio da parede, levou-o até a mesa, mostrando que  atrás do relógio havia um papel retangular (famoso oitavado) ali colado constando a data da colocação das pilhas que coincidia com a do comprovante  da  aquisição.
 
Era assim o BANCO DO BRASIL S.A. que eu conheci, vivi, amei e respeito até hoje. Por isso estou de alma lavada e tenho certeza que também o estão milhares de colegas aposentados e ativos, pois, enquanto nos idos de 1965 se prestava contas da aquisição de duas pilhas de lanterna, em 2003, o corrupto diretor Henrique Pizzolato desviou mais de R$. 75.000.000,00 dos cofres do Banco para o bolso dos políticos envolvidos no maior escândalo político do Brasil patrocinado pelo PT – O Mensalão.
 
Não bastasse o desvio,  ainda recebeu propina de R$ 326.000,00. Para nosso deleite, em seu depoimento construiu uma história melhor que os textos do Zorra total, pasmem os senhores, afirmou em juízo que entregou pessoalmente os pacotes contendo a elevada soma a alguém do PT, cujo nome não perguntou. Só mesmo rindo.

            Estaremos atentos à dosimetria da pena, que seja exemplar!

          
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